O FINAL DOS ANOS 1980, a União Soviética entrou no processo de abertura econômica.
O então presidente Mikhail Gorbachev julgou que estava na hora de os membros
do Partido Comunista conhecerem as regras do capitalismo.
Em vez de organizar uma palestra com um guru econômico ou indicar a leitura de um livro
acadêmico, Gorbachev resolveu distribuir aos políticos dezenas de tabuleiros... de Banco
Imobiliário (ou Monopoly, nome original americano).
Segundo o presidente soviético, era a
forma mais fácil de se entender a lógica do novo modelo.
Curioso que esse símbolo do capitalismo tenha surgido exatamente no momento da maior
crise econômica da história: na Grande Depressão que se seguiu ao crash da Bolsa de Valores
de Nova York.
Início dos anos 1930.
O mundo vivia uma destruição de riqueza sem precedentes: entre
1929 e 1933, o Produto Interno Bruto dos Estados Unidos encolhera 45%. Milhares de
empresas fecharam as portas. Bancos, indústrias e negócios rurais reduziram drasticamente suas
operações. Um em cada quatro trabalhadores perdeu o emprego. Mais de 12 milhões de
americanos foram colocados na rua.
Em meio a essa turbulência, nos arredores da Pensilvânia, o engenheiro Charles Darrow era
uma das vítimas do desemprego.
Confinado em casa sem nada para fazer, ele tentava distrair
os filhos contando histórias e improvisando brincadeiras.
Certo dia, Charles recordou um passatempo interessante que havia conhecido no trabalho:
um jogo divertido mas com regras complexas que simulava negociar imóveis por valores
fictícios. Pensando em entreter as crianças enquanto a esposa preparava a refeição, ele
começou a desenhar na toalha de mesa uma cidadezinha, com casas e prédios inspirados nas
construções da vizinhança.
Definiu algumas regras e pronto.
A diversão conquistou inicialmente os filhos, depois os vizinhos e também os amigos. A
única pessoa que não aprovou a novidade foi a esposa de Charles, que implicou com a toalha
danificada. Mas o engenheiro logo a convenceu de que ali poderia estar o futuro de toda a
família. Na situação crítica em que todos estavam vivendo, sonhar com propriedades, riqueza
e fartura funcionava como alívio.
Bastava ver o interesse de adultos e crianças para perceber o
potencial da idéia.
Pensando em faturar com aquilo, Charles procurou o principal fabricante de jogos da região:
a Parker Brothers. Foi atendido pelos diretores e explicou detalhadamente como a novidade
funcionava. Para sua surpresa, os executivos não se animaram: “O jogo é chato, lento...”, “As
regras são complicadas e confusas”, “Isso não tem a menor chance de fazer sucesso”.
Mas Charles não se deixou abater. Partiu para produzir a invenção por conta própria.
Reuniu familiares e amigos desempregados como ele e fabricou cinco mil unidades, que
negociou com uma loja de departamentos local. Os primeiros a comprar foram os próprios
vizinhos, que já conheciam a novidade. Logo o estoque acabou. Uma nova leva foi produzida
a toque de caixa, e também vendida rapidamente.
O jogo virou sensação na região, gerando
uma propaganda boca a boca tão grande que chamou a atenção da... Parker Brothers. Isso
mesmo: a mesma empresa que anteriormente não havia demonstrado interesse.
Ah, como é gostoso ver as voltas que o mundo dá. Chamado às pressas pela diretoria,
Charles recebeu um tratamento bem diferente desta vez: “Que jogo imaginativo, hein?”, “E
crianças e adultos podem jogar juntos”, “Aceita produzir com a gente, Charles?”.
Fabricado em escala industrial, o Monopoly logo conquistou não apenas os Estados Unidos,
mas o mundo inteiro. De um simples desempregado, Charles Darrow se transformou no
primeiro criador de jogos milionário da história. Atualmente, sua criação é produzida em 26
línguas diferentes e está presente em 80 países. Estima-se que mais de 500 milhões de pessoas
já tenham jogado Monopoly em algum momento da vida.
Não importa quão profunda seja uma crise. Sempre haverá espaço para mentes imaginativas
driblarem as dificuldades e encontrarem uma forma de faturar.
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