Um rapaz que estava em região inóspita, longe da casa dos pais, sozinho e
não podia falhar aconteceu na década de 1960 em Goiás.
Na época, o estado era um dos mais atrasados do Brasil. Por isso, recebeu ajuda financeira
do governo Juscelino Kubitschek.
Incentivados pelos recursos federais, os produtores rurais da
região partiram para o crescimento, ampliando áreas de plantio e criação de gado. Para
inspecionar as extensas propriedades, contrataram empresas aéreas de São Paulo, já que Goiás
não dispunha do serviço.
Devido à enorme distância entre os estados, os agricultores eram obrigados a pagar uma
exorbitância às companhias aéreas paulistas. Uma das fazendas achou mais vantajoso ter um
piloto exclusivo para cuidar da propriedade. Por isso, buscou em São Paulo um rapaz
chamado Adolfo. Ao chegar na região, o piloto de 24 anos ficou impressionado. Ele não fazia
idéia do alto valor cobrado por um simples vôo de inspeção. Imediatamente, identificou uma
enorme oportunidade ali: atender os fazendeiros do local por um preço menor.
Empolgado,
largou o emprego e financiou um avião Cessna 170.
O plano parecia bom, mas o imprevisível aconteceu: os agropecuaristas se recusaram a
contratar o jovem piloto. Por quê? Primeiro, porque ele não pertencia a uma grande
empresa, não oferecia garantias, o que causou desconfiança ao grupo. Segundo, e talvez mais
grave, para os emergentes homens do campo, recrutar pilotos da capital paulista era uma
questão de status.
Imagine o desespero de Adolfo. Longe de casa e com um problema gigantesco nas mãos:
um avião financiado.
Em vez de desistir, o piloto apelou para a criatividade. Comprou rádios
intercomunicadores e os distribuiu gratuitamente para os fazendeiros, com o seguinte discurso:
“Quando vocês precisarem de serviço aéreo, não liguem para São Paulo. Passem uma
mensagem pelo rádio que eu venho rapidinho atendê-los.”
Dirá você: mas a estratégia não atacava diretamente qualquer dos dois problemas, a
necessidade de garantias e o desejo de status. Mas tinha um impacto emocional. Como os
rádios funcionavam na mesma freqüência, quando o primeiro fazendeiro chamou o piloto, os
outros ouviram. Assim, um foi encorajando os outros a experimentar o serviço.
E como
acompanhavam os planos uns dos outros, foi possível combinar viagens em conjunto e
economizar ainda mais.
Foi uma tacada certeira. Grande parte dos produtores da região se tornou cliente do jovem
piloto. E a visão empreendedora do rapaz não parou por aí. Ele percebeu que alguns
fazendeiros possuíam aeronaves próprias para transporte pessoal e gastavam fortunas com
combustível e manutenção. Espertamente, propôs aos empresários que revendessem seus
aviões para ele em troca de serviços prestados por sua empresa de táxi aéreo.
Os homens, que
eram bons de conta, rapidamente identificaram os benefícios da operação. Em pouco mais de
um ano, sua frota passou de um para nove aviões.
Foi assim, com a cara e a coragem, que o piloto Rolim Adolfo Amaro começou sua
trajetória como um dos maiores empreendedores brasileiros. Anos depois, em 1972, o
comandante adquiriu metade das ações de uma empresa denominada Táxi Aéreo Marília.
Com tacadas certeiras como a citada acima, nas décadas seguintes ele transformou o pequeno
negócio na gigante TAM, a maior companhia aérea brasileira.
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